Vejam essa notícia publicada pelo UOL, ainda em agosto de 2012.
MP investiga cachês milionários pagos por prefeituras a artistas no Rio Grande do Norte
Os indícios de superfaturamento no pagamento de cachês a cantores e
bandas estão sendo alvo de investigação pelo Ministério Público no Rio
Grande do Norte. Somente em 2012, as cidades de Macau (181 km de Natal) e
Guamaré (170 km da capital) gastaram mais de R$ 6 milhões com shows
durante o Carnaval e uma festa de emancipação. Há casos em que uma banda
recebeu R$ 700 mil por apresentações. O valor gasto com as duas festas
em Guamaré supera o principal repasse feito pelo governo federal ao
município este ano. Segundo o Tesouro Nacional, Guamaré recebeu R$ 3,58
milhões até o mês de julho pelo FPM (Fundo de Participação dos
Municípios)
Segundo planilha de valores pagos em cachê, informada pelo MP, a
cidade de Guamaré gastou, somente em 2012, R$ 4,1 milhões com o
pagamento de artistas para as festas de Carnaval e de emancipação
política do município (realizada entre 2 e 6 de maio).
A prestação de contas apresentada pela prefeitura aponta para o
pagamento de cachês em preço acima dos cobrados pelos artistas. A dupla
Zezé di Camargo e Luciano foi uma das atrações da festa de emancipação e
teria recebido R$ 450 mil para se apresentar no dia cinco de maio.
Porém, o cachê da dupla, hoje, estaria em torno de R$ 150 mil, segundo ranking divulgado pela "Folha de S. Paulo".
No ranking, o show mais caro seria o de Michel Teló, que custaria R$
350 mil – R$ 100 mil a menos do que o valor pago pela prefeitura à dupla
sertaneja, por exemplo.
Outros valores de shows também chamam a atenção pelos preços cobrados. O
cantor Fábio Jr. teria recebido o cachê de R$ 290 mil. As bandas
Parangolé (R$ 215 mil), Cheiro de Amor (R$ 215 mil) e Garota Safada (R$
157 mil) também aparecem na lista com quantias acima das cobradas pelos
grupos no mercado.
A festa de Carnaval da cidade também teve gastos milionários em 2012,
com a contratação de bandas famosas. A atração mais cara da festa foi o
baiano Ricardo Chaves, que teria recebido R$ 270 mil de cachê. Também
adeptas do axé, Tatau e Banda (R$ 265 mil) e Chicabana (R$ 262 mil)
foram inclusas na lista das mais bem pagas.
A prefeitura também foi generosa com bandas menos conhecidas do grande
público. Grupos como o Leva Noiz, Grafith, Phaphirô, Fantasmão, Forró
Pegado, Saia Rodada e Duas Medidas também aparecem na prestação de
contas com cachês bem superiores a R$ 100 mil.
Em Macau, o Carnaval custou R$ 2,2 milhões em cachês a artistas. Entre
todos os contratados, nenhuma banda foi tão agraciada como a potiguar
Grafith, que teria recebido nada menos que R$ 700 mil por sete
apresentações.
Apesar de não ser São João, bandas de Forró também não foram
esquecidas: Cavaleiros do Forró (R$ 165 mil), Forró Pegado (R$ 160 mil) e
Forró dos Play (R$ 150 mil) também receberam quantias bem acima de
valores normais, segundo análise do MP.
O UOL consultou um produtor cultural e mostrou a
planilha apresentada pelas prefeituras. Para ele, os cachês não custam
nem próximo dos valores citados em praticamente todos os casos.
“Esses preços estão completamente fora da realidade dos shows, ainda
mais por se tratar de cidades do interior do Nordeste. Com R$ 2 milhões
você promove uma festa de dez dias, com dez atrações nacionais de peso e
ainda sobra dinheiro. Poucos shows custam R$ 100 mil”, disse.
“Os valores gastos não justificam de forma alguma, são exorbitantes.
Como pessoas comuns, procuramos os empresários das bandas, e eles passam
um valor bem inferior aos que são pagos", disse promotora de defesa do
patrimônio público do MP, Isabel de Siqueira, que explicou que o MP quer
saber, agora, se os artistas contratados receberam o valor apresentado
na prestação de contas.
“Queremos agora saber quem recebeu o cheque. Porque as prefeituras
fazem o seguinte: contratam um empresário local, que intermedia os shows
com exclusividade. Não sabemos quanto o artista recebe”, disse. Segundo
a promotora, “o caso de Guamaré é incrível".
A cidade é a maior produtora de petróleo do Estado e tem a economia
baseada na estação da Petrobras. "É uma cidade de 14 mil habitantes, que
recebe muito dinheiro em royalties. Tudo em Guamaré são milhões e
milhões. Mas toda eleição é assim: o prefeito entra uma pessoa normal e
sai milionário. A escola da cidade é de má qualidade. Na avaliação do
MEC (Ministério da Educação), ela tirou nota 4,3, mais baixa que a média
da avaliação do Estado”, alegou.
A promotora explicou que já procurou os municípios para tentar um
acordo, para redução dos gastos públicos, mas não obteve êxito. “Em 2010
tentamos um termo de ajuste de conduta, enviamos recomendações, mas não
serviu”, disse.
A promotora responsável pelas comarcas de Macau e Guamaré, Raquel
Batista de Ataide Fagundes, informou que há dois anos o MP passou a
acompanhar os pagamentos.
Segundo ela, existem três inquéritos investigando os gastos de festas
em Macau e outros dois em Guamaré. Um procedimento preparatório também
foi instaurado em Guamaré para avaliar os gastos da festa de emancipação
da cidade. Todos ainda estão em fase de tramitação.
“Em relação a todos os procedimentos, alguns documentos já foram
apresentados pelo Município e estão em fase de análise. Somente após a
análise de todos os documentos, serão definidos os próximos passos”,
disse.
Sem resposta
O UOL tentou contato com as prefeituras com gastos
suspeitos, mas não obteve êxito. Em Guamaré, a reportagem ligou para a
Secretaria de Cultura, que informou que a responsabilidade seria da
pasta do Turismo, que por sua vez pediu que procurássemos a Secretaria
de Administração e Finanças.
As ligações telefônicas para o órgão, porém, não foram atendidas. O UOL
ainda ligou para o celular da Chefe da Casa Civil, Katiuscia
Montenegro, mas a ligação foi atendida por uma pessoa, que alegou que a
chefe poderia atender a ligação em dez minutos. Mas, ao retornar a
ligação, o telefone estava desligado.
Em Macau, a prefeitura informou que existiria um assessor de imprensa
que poderia passar informações. Porém, os telefones fixo e celular
repassados não tiveram as ligações completadas.
NOTA DO BLOG: Seria ótimo se o Ministério Público analisasse os gastos da Prefeitura de Mossoró no Cidade Junina. Afinal de contas, pagar R$ 180.000,00 por um show da banda parangolé (segundo o jornalista Bruno Barreto), além de um sinal de um gosto musical questionável, é um descaso total com o dinheiro pago pelo cidadão.
Devemos lembrar ainda que cada um de nós pode contribuir para acabar com esses desmandos. Para isso, basta fazer duas coisas:
1 - Não ir aos shows (imagine chegar a hora da festa e ninguém aparecer para ouvir esssas músicas horríveis);
2 - Não votar em políticos que torram o dinheiro público nesse tipo de festa.