Vejam a entrevista completa com Obery Rodrigues ao Jornal de Hoje:
O Jornal de Hoje: Diante do decreto de corte orçamentário,
muitos questionaram a forma como o planejamento do Governo do Estado foi
feito, que não previu essa situação financeira difícil. Como foram
feitas as previsões orçamentárias deste ano? Faltou planejamento?
Obery Rodrigues: As projeções não são feitas apenas da nossa cabeça, são
baseadas nas informações passadas pela Secretaria do Tesouro Nacional.
Quem quiser, pode buscar a informação. Nós fizemos o planejamento com
relação ao Fundo de Participação dos Estados (FPE), aplicando o índice
do Rio Grande do Norte, que era em torno dos 4,17%, alcançando o valor
de R$ 3,88 bilhões. Em maio, o Governo Federal publicou um decreto
reduzindo a expectativa do Fundo em 8,1%, já dificultando as finanças
públicas e aquilo que tínhamos planejado. Esse decreto também é público.
É do dia 29, se não me engano. O problema foi maior agora porque em
julho a frustração do repasse foi de 20%, e piorou ainda mais. E a
situação não aponta para uma recuperação, por isso que tivemos que fazer
esses cortes. Com relação às receitas próprias do Estado (que são os
impostos, sobretudo o ICMS), quem elabora é a Secretaria Estadual de
Tributação e também há uma frustração de receita, de cerca de 5%.
JH: Com o anúncio dos cortes, os poderes reclamaram que
faltou comunicação da real situação financeira do Estado. Houve essa
comunicação?
OR: Essa situação (de crise do Governo e de frustração da receita) foi
demonstrada em todas as reuniões que ocorreram, para que o Estado
pudesse compreender essa situação. A frustração de receita não atinge só
o Executivo, e sim todos os poderes do Estado. E essa não é uma
situação nova. Estamos falando isso há um bom tempo. Também não é algo
difícil de se entender: onde há uma frustração de receita e a despesa
aumentou duas vezes mais, há dificuldade financeira e a necessidade de
corte. É igual a um orçamento doméstico. É simples e o Governo nunca
escondeu isso. É uma situação que está acontecendo em vários estados
também. São Paulo, que tem a maior receita do Brasil, anunciou cortes. O
próprio Governo Federal fez cortes recentes. O Rio Grande do Norte não é
uma ilha. A gente vê notícias de recorde de arrecadação e que há
tranquilidade financeira, mas o RN é um estado pobre, então, como
estaria assim, enquanto todo o mundo vive em crise?
JH: Há de se recordar que no início do ano já houve um impasse para fechar o orçamento de 2013…
OR: Ali foi uma longa negociação e já naquele momento mostramos a grande
dificuldade de se chegar a um consenso. É algo também simples de se
entender. Se um avança no orçamento, o outro tem que diminuir. O
dinheiro tem que sair de algum lugar. Foi um momento de muita pressão.
Uma pressão muito grande mesmo. O Governo então considerou algumas
propostas dos outros poderes, o relator do orçamento na Assembleia
acatou outras emendas. Eu sempre apontei as dificuldades que isso traria
e sempre falei baseado nos números, porque não posso brigar com os
números. Todas as projeções que faço são baseadas em números, para ser o
mais verossímil possível. A governadora vetou algumas emendas e houve
uma enorme pressão, mas acabou chegando a um acordo e ficou decidido que
as emendas ficariam condicionadas a situação financeira do Estado. O
problema é que a crise foi ainda maior que a gente esperava e não foi
possível nem cumprir o que foi previsto.
JH: Em entrevista esta semana, o deputado estadual Kelps Lima
(PR), questionou a justificativa que se dá de que os planos de cargos
comprometeriam as finanças. Ele sugeriu que o Governo encaminhasse uma
proposta de suspensão dos planos até a situação financeira do Estado
melhorar. Há essa possibilidade?
OR: As leis de planos de carreiras estão condicionadas pelo índice de
despesa de pessoal, não podendo fazer o Estado ficar acima do limite de
gastos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Mas nisso o Governo
também tem sofrido uma enorme pressão para implantar, inclusive no
âmbito do judiciário, que até já determinou a suspensão da implementação
ainda não em caráter definitivo. Porém, neste ano, a folha salarial
sentiu o peso de reajustes dados aos professores e aos policiais
militares, o que aumentou consideravelmente os gastos com o serviço
público.
JH: O deputado afirmou também que pretende convocar o senhor e
o secretário de Administração para prestar esclarecimento sobre as
finanças públicas…
OR: Estou à disposição para ir e levar os números que provam tudo que estamos dizendo.
JH: Pela situação atual do Governo, pode-se dizer que o Estado faliu ou estava caminhando para a falência antes dos cortes?
OR: Não há uma previsão legal de falência quando se fala em Estado.
Agora, se afirma que o Estado quebrou quando ele perde a condição de
financiar os serviços públicos fundamentais e quando não consegue pagar
seus credores.
JH: Então, é possível dizer que o RN quebrou por não está cumprindo com os compromissos?
OR: Sim, tecnicamente sim. O Estado está quebrado, porque não está conseguindo honrar integralmente os seus compromissos.
JH: Há possibilidade de recuperação financeira com o anúncio dos cortes?
OR: O esforço é nesse sentido. É conter o aumento das despesas para
equilibrar as contas públicas. Fora disso, não tem salvação. A sociedade
é quem vai sofrer com isso, porque faltam recursos para a execução de
serviços fundamentais.
JH: Os recursos do empréstimo junto ao Banco Mundial (mais de R$ 1,2 bilhão), podem ajudar nisso?
OR: Esses recursos eles não vão chegar todos de uma vez, a liberação
será feita, na primeira etapa, em cinco anos. E os recursos são todos
comprometidos, com utilização específica nos programas, sob rígido
controle do Banco Mundial. É terminantemente proibido, por exemplo, a
utilização de recursos para o pagamento de pessoal, sob possibilidade de
crime de responsabilidade.
JH: O Governo do Estado conseguiu pagar julho (o último dia
de pagamento era hoje)? Para o próximo mês, o Governo enfrentará a mesma
dificuldade?
OR: O dinheiro está na conta. Já recebemos uma mensagem confirmando
isso. Para o pagamento do próximo mês, será outra batalha. Será
necessário um monitoramento da receita para ver como se comporta. Será
um olho na receita e um olha na despesa. E isso diariamente.
Nota do blog: Esse é o governo da reconstrução?
Todos os serviços prestados pelo governo do RN funcionam precariamente.
Nada foi feito para mudar essa realidade ao longo da atual gestão.
Para completar o quadro de total incapacidade administrativa, a atual governadora não consegue, ao menos, equilibrar as contas do governo, com sérios riscos de comprometer até o pagamento dos servidores.
Simplesmente lamentável.