Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos. Pitágoras

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“O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram.” Jean Piaget

Número de homicídios em Mossoró no ano de 2013

Até o momento, foram registrados 133 homicídios na metrópole do futuro.
Alguém acredita que nossas autoridades (Prefeita, Governadora, Vereadores etc.) estão preocupadas com isso?

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sexta-feira, 8 de março de 2013

Igualdade de gênero no Brasil: apesar das conquistas, ainda há uma longa estrada a ser trilhada

Autora: Ana Karolina Vieira Holanda
 
Quando paramos para refletir sobre as mudanças nos papeis exercidos pela mulher ao longo do século XX e neste início de século XXI, percebemos que, se não estivéssemos presenciando tudo o que está acontecendo, teríamos  dificuldade para acreditar que tanta coisa mudou. 
Saindo do estereótipo de “donas de casa” e chegando ao acirrado mundo empresarial, acumulando, ainda, a função de “chefes de família”, é notória a transformação nos papéis desenvolvidos por nós, mulheres. Basta lembrarmos que, em 1917, na Rússia, mulheres faziam protestos pedindo melhores condições de vida, de trabalho e para que seu país não fizesse parte da Primeira Guerra Mundial. Isso aconteceu em 8 de março daquele ano. Tempos depois, essa data se tornou conhecida mundia lmente como o Dia Internacional da Mulher, destacando as vitórias e conquistas feministas na sociedade, sem esquecer que muito ainda precisa ser feito para assegurar a igualdade de direitos entre os gêneros, pois, em pleno século XXI, muitas de nós, mulheres, ainda sofremos com o preconceito e o menosprezo da sociedade no que diz respeito às nossas funções na sociedade, nossos desejos e objetivos pessoais.
O movimento feminista conquistou significativa influência e visibilidade a partir da década de 1960, com o movimento pelos direitos civis que surgiu nos Estados Unidos e o colapso do colonialismo europeu na África, no Caribe e em partes da América Latina e do Sudeste Asiático. Porém, seus ideais já eram conhecidos desde cerca de 30 anos antes.
No Brasil, deparamos-nos com um movimento feminista que é considerado por muitos como o mais amplo, diverso, radical e de maior influência em toda a América Latina. Foram criadas associações e casas de mulheres. Estas se inseriram nos sindicatos, através dos quais reivindicaram um espaço próprio. Nos anos de 1970, começa a surgir uma nova versão da mulher brasileira, que realiza enormes manifestações de denúncia das desigualdades e vai às ruas em defesa de seus direitos. 
Depois de décadas de luta, o movimento feminista brasileiro pode olhar para o caminho percorrido e perceber que, a cada dia, nós estamos conquistando o nosso merecido espaço na sociedade. Foram iniciadas as buscas femininas pela realização pessoal e pelo direito de usufruir do próprio corpo da forma que nos seja mais conveniente. 
As mudanças são visíveis nos mais diversos setores, como, por exemplo, na política, pois mesmo depois de conseguirmos o direito ao voto, a presença feminina ocupando cargos políticos era pequena e, em alguns casos, até inexi stente. Hoje nós ocupamos espaços que antes eram destinados apenas aos homens. E exemplo vivo é o da Presidenta Dilma Rousseff, contrariando os paradigmas do patriarcalismo, inclusive a própria língua portuguesa. 
Dentre tantas outras conquistas, nós também conseguimos espaço no mercado de trabalho e hoje somos vistas com mais atenção pelos empregadores quando o quesito é “empreendedorismo”, sendo consideradas mais atentas, criativas e organizadas.
Diante de tantas conquistas, surgem discursos que a rgumentam a favor da ideia de que a mulher não precisaria mais se indispor em lutas por mais direitos, devendo apenas se preocupar em usufruir de tudo o que já conquistou. 
Devemos lembrar aos defensores dessas ideias que, apesar das inúmeras conquistas, nem tudo mudou. Além de enfrentarmos as dificuldade s típicas do mundo do trabalho, as mulheres ainda devem ser mães, educar e cuidar de seus filhos, manter a casa em ordem e permanecer sendo a esposa desejada por seu marido. 
Não é de se estranhar que essa situação gere um claro conflito: a mulher teria mesmo conseguido sua liberdade, já que ainda precisa cuidar da casa e dos filhos? Ou apenas acumulou responsabilidades? 
Ao compararmos um casal em que o homem e a mulher não têm filhos e possuem jornadas de trabalho semelhantes, veremos que, na maioria dos casos, ao chegarem a casa, os dois se deparam com situações totalmente diversas. Estudos mostram que, ao sair do emprego, o homem costuma destinar cerca de 10 horas semanais para serviços domésticos em geral. Já a mulher disponibiliza o dobro disso, ou seja, cerca de 20 horas semanais. Com a chegada das crianças ao lar, a quantidade de horas semanais que nós, mulheres, destinamos ao trabalho doméstico chega a ser 4 a 5 vezes maior que a quantidade de horas semanais destinadas pelos homens. 
A jornada dupla é vista por muitos como um problema apenas feminino, assim como as responsabilidades acerca do uso de anticoncepcionais e preservativos. Porém esse é um desafio que tem de ser encarado por todos, e não apenas por nós. 
Há também muitos obstáculos para que possamos ocupar cargos de maior notoriedade, em uma comparação com os homens, pois, de cada 10 cargos executivos que existem no Brasil, apenas um deles é ocupado por uma mulher. Nos cargos de gerência, 80% das ocupações são de homens, contra apenas 20% de mulheres. Além disso, somos demitidas com mais facilidade que os homens e, uma vez demitidas, enfrentamos grandes dificuldades para conseguirmos nossa reinserção no mercado de trabalho.
Esses empecilhos ficam escancarados se a mulher já tiver atingido o ápice de sua maturidade feminina e já for mãe, pois muitos dos empregadores acreditam que uma mulher com filhos possui vários motivos que a fazem ausentar-se do ambiente de trabalho.
É preciso reconhecer que esse contexto está sendo modificado, pois pesquisas mostram que a inserção de mulheres nesse ambiente tem sido crescente e visível, assim como na ocupação de cargos mais importantes. No entanto, se compararmos esses dados, ainda é possível constatar que muito ainda precisa ser feito para que essa situação seja modificada.
E vale salientar que só falamos das discrepâncias decorrentes das diferenças de gênero. Nunca é demais ressaltar que essas desigualdades quanto aos direitos e realidades ficam ainda mais evidentes quando se adiciona a variável “racial” a essas problemáticas, visto que a realidade para a maioria das mulheres negras tem sido ainda mais problemática do que para as mulheres brancas, já que as mulheres negras são as primeiras a entrarem no mercado de trabalho e as últimas a saírem, recebendo salários menores, mesmo quando possuem a mesma escolaridade, além de trabalharem em atividades precárias e informais.
As poucas mulheres negras que se libertam dos estereótipos de raça e chegam a altos cargos na sociedade, geralmente têm de pagar um preço alto por essa conquista, pois além de serem competentes profissionalmente, têm de lidar com a questão da cor da sua pele como empecilho para o crescimento. Em alguns casos, essas mulheres chegam a abdicar da conquista de outros objetivos pessoais também importantes para a personalidade feminina, tais como: o matrimonio, a maternidade e o lazer em geral.
Não bastando tantos empecilhos para as mulheres seguirem suas vidas, algumas ainda têm a falta de sorte de se depararem com homens que as tratam como objeto, como posse, e acham que podem agredi-las na hora em que desejarem.
A cada cinco minutos, uma mulher é agredida no país. E muitas delas chegam a morrer, pois o poder público, apesar de dever, não tem conseguido impedir que esse tipo de violência aconteça, apesar do aumento no número de denúncias e dos avanços na legislação, a exemplo da Lei Maria da Penha.
Diante desse cenário, fica mais do que evidente que, apesar de todas as conquistas, a desigualdade entre os gêneros ainda é evidente, sendo agravada por questões de raça e declasse social. Nenhuma das diferenças ou das tantas outras desigualdades deve ser tratada como menos importante ou secundária, pois elas fazem com que haja dificuldades maiores para determinada parcela da comunidade, coisa que não deveria ocorrer. 
 Analisando parâmetros nacionais, é possível ver que apesar de a Constituição Federal estabelecer que homens e mulheres sejam iguais e, portanto, possuírem os mesmo direitos e obrigações, o livro “A Revolução dos Bichos”, apesar de escrito em outra época, ainda éválido no contexto social atual, quando diz: “Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros”. Os que sofrem com as diferenças de gênero, cor - ou de qualquer outra - não pedem privilégios, pedem igualdade. Queremos as sistir a propagandas de cerveja nas quais mulheres não sejam objetos sexuais, contar para nossos netos histórias em que uma princesa não mais precise de um príncipe para tirá-la da torre, pois ela própria pode se salvar, e que ela não mais seja branca, loira, de olhos azuis e cabelos lisos. Que ela possa ser negra, de cabelos cacheados e segura de si.
Nota do blog: Fiquei muito feliz ao receber a confirmação de que, com essa redação, minha orientanda do Programa de Formação de Recursos Humanos (PFRH), Ana Karolina Vieira Holanda, aluna do segundo ano do curso de eletrotécnica do campus de Mossoró do IFRN, conquistou o prêmio "Construindo a igualdade de gênero", etapa unidade da federação, coordenado pelo CNPQ e pela Secretaria de políticas para as mulheres. 
Parabéns para Ana Karol e para todas as mulheres. Espero que um dia, não precisemos mais dedicar um único dia do ano às lutas e conquistas das mulheres, pois, em um contexto de verdadeira igualdade, todos os dias serão dias dos homens e das mulheres.

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