Com o advento da massificação dos valores e costumes, a sociedade
ocidental atual parece viver uma espécie de ditadura da juventude e da
beleza. Todos parecem ser obrigados a mostrarem-se sempre bonitos(as) e jovens. A velhice parece ter tornado-se algo quase imoral e reprovável. É “feio” envelhecer.
Mostrar o corpo que envelheceu, para
alguns, parece ser algo que não se deve fazer, como se os espaços
públicos fossem um privilégio dos jovens ou daqueles que optaram por
entregar eternamente seus corpos aos bisturis. Os espaços públicos
parecem que só podem ser habitados por aqueles que são jovens ou por
aqueles que beberam da “fonte da juventude” (plásticas e mais plásticas
com o objetivo de “esconder a idade”).
Os idosos parecem ser obrigados a
esconder seus corpos, a ter vergonha dos mesmos, como se fosse imoral ou
constrangedor mostrar para a sociedade que as pessoas envelhecem e ao
envelhecer nossos corpos adquirem novas características.
Recentemente a atriz Betty Farias sentiu
isso na pele. Teve a “ousadia” de ir para a praia de biquini, aos 72
anos, e foi severamente criticada por isso.
Essa tirania multiplica-se,
principalmente, devido a falta de conhecimento histórico dos padrões de
beleza e da pouca tolerância com a diversidade. Ao nos reportarmos ao
passado podemos ver que os padrões de beleza são mutáveis. O que era
belo em outras épocas não se considera belo em dias de hoje e o belo de
hoje também não será o belo de amanhã.
Um ótimo exemplo disto são as “miss”. Ao
se observar uma “miss” da década de 50/60 veremos que o padrão de beleza
adotado em muito difere dos dias atuais. A “miss” da década de 60 não
seria “miss” nos dias de hoje. Vera Regina Ribeiro, por exemplo, miss do
ano de 1959, em dias de hoje seria considerada uma “gordinha” e
provavelmente receberia críticas severas caso se candidatasse a
concorrer ao concurso.
Uma certa juventude brasileira acredita
que é errado mostrar um corpo que envelheceu, um corpo que seguiu o
curso natural da vida e esta mesma certa juventude mostra-se como
intolerantes, impositores de padrões e controladores da vida social.
Não podemos falar em um país livre
enquanto continuarmos a gerar constrangimentos contra aqueles que
desejam mostrar seus corpos nos espaços públicos, enquanto pessoas
continuarem a ter vergonha de mostrar seus corpos devido ao
constrangimento gerado por outros que insistem em dizer que apenas o
padrão hegemônico de beleza deve ser mostrado nos espaços públicos.
Os idosos não precisam usar burcas. Eles podem e merecem mostrar seus corpos.
Fonte: Carta potiguar
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