Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos. Pitágoras

Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos. Pitágoras
“O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram.” Jean Piaget

Número de homicídios em Mossoró no ano de 2013

Até o momento, foram registrados 133 homicídios na metrópole do futuro.
Alguém acredita que nossas autoridades (Prefeita, Governadora, Vereadores etc.) estão preocupadas com isso?

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

E se as lojas não abrissem em dezembro?

O questionamento acima me leva a crer que não teríamos Natal. Seguramente, não nesse formato.

A razão cristã alardeada como motivação para a existência da festa (incompreensível para mim, diga-se de passagem) está cada vez mais relegada ao segundo plano.

A relação intrínseca das ofertas de fim de ano nas lojas e a festa natalina são quase imperceptíveis, por se configurarem uma realidade habitual pautada notadamente na mídia televisiva. Consideramos natural aquilo que é uma mera construção mercantilista revestida em parte de festividade religiosa, que invade, literalmente, nosso cotidiano. E a religião nesse caso (e em outros tantos) serve muito bem aos propósitos do mercado.

A festa é caracterizada, em parte, pela ansiedade que a época gera nas crianças das mais variadas idades e classes sociais. A suposta espera pela chegada do bom velhinho se mistura ao desejo de receber o presente sonhado. Temo que a realidade, por trás desse cenário angelical, demonstre que a verdadeira espera seja a que os adultos cultivam. Fundamentalmente, a da chegada do 13º salário (que com certeza não desce pela chaminé) que servirá para quitar dívidas, renovar o guarda-roupa e modernizar alguns já surrados utensílios pessoais e domésticos. E até atender, quando possível, ao anseio dos pequeninos.

A opressão da mídia nessa época invade as mentes, especialmente de crianças, fornecendo-lhes um infinito e ilusório manancial de possibilidades, onde os brinquedos automáticos, que preenchem o imaginário infantil, dão lugar na vida real a bonecas e carrinhos de plástico inanimados, causando duplo estrago, frustração em quem recebe e angústia em quem presenteia.

E aí vem uma outra pergunta. E se o Natal, de fato, não existisse?

Pondero, pelo lado positivo do hipotético episódio, que teríamos menos angústia e decepção em muitos lares. A realidade da festa não se dissemina na mesma proporção nas diferentes residências espalhadas pelos mais variados rincões desse nosso país continental, nem do ponto de vista da ceia e tampouco da famigerada troca de presentes, mas a mídia que se propaga relativa à festa é exatamente a mesma para todos. Basta que se possua uma televisão e todos, indistintamente, estarão expostos ao apelo comercial revestido de festa de natal.

Como a festividade acaba por valorizar, e até mesmo medir, o potencial mercantil de cada um, perde-se a essência daquilo que poderia ser um encontro pautado em valores bem mais sólidos como estima e amizade fraterna. Então, proponho mudanças.
Para alguns a proposta de mudança custaria muito pouco, apenas seria a extensão de seu modo de viver, exatamente como todos os outros dias do ano.

Em contrapartida, para outros seria um verdadeiro transtorno, pois não haveria possibilidade de ir ao comércio adquirir um punhado de afeto para presentear, pois, por mais dinheiro que se possua, não há afeição à venda. Melhor então, nesse caso, se contentar (fazendo de conta que isso preenche esse espaço) em comprar, por exemplo, um Blackberry, com tecnologia 3G, Wi-Fi, GPS integrado, com teclado Qwerty, câmara de 2MP com zoom de 5x, filmadora, MP3 Player, Estéreo 2.0 e Bluetooth. Seja lá o que isso signifique para a maioria dos mortais.

Quando questionados sobre a importância da festa, normalmente os cristãos saem em sua defesa em virtude da obrigatoriedade da comemoração do natalício daquele que acreditam ser o filho de deus, mas mesmo entre a maioria dos cristãos a festa assume a mesma conotação mercantilista. Não há muita diferença comportamental dos que crêem ou não nessa motivação para a festa. Todos que podem, comem peru e brindam (?) com uma Champagne Moet&Chandon.

Os que não podem... bem, os que não podem desejam poder. Como bem descreveu Mário de Andrade em seu conto O Peru de Natal (1947):
“... Era costume sempre, na família, a ceia de Natal. Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai, castanhas, figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturrados de amêndoas e nozes [...], empanturrados de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra cama. Foi lembrando isso que arrebentei com uma das minhas "loucuras": – Bom, no Natal, quero comer peru.”

Quem sabe Mário de Andrade quisesse revelar, com sua frase emblemática: “– Bom, no Natal, quero comer peru.”, a necessidade que todos temos de romper com nosso cotidiano, mesmo que temporariamente, e nos aproximarmos de uma vida que não é a nossa, e naquele débil espaço de tempo termos uma inútil sensação de alívio, pois a vida real que a maioria possui é repleta de descoloridas responsabilidades e incessantes deveres. Quem sabe?

Muitas pessoas mundo afora não comemoram a festa de natal, por razões distintas, mas muitas se reúnem nessa época com o intuito de renovar sua amizade e demonstrar amor pelos que lhes são caros. Muitos não valorizam a troca de presentes como forma de demonstrar consideração por alguém, mas o fazem com palavras e atitudes ao longo do ano e em função de seu relacionamento, sem previsão de data ou local para que se compartilhem os sentimentos que fazem tão bem a todos os envolvidos, sejam estes crianças ou adultos.

Penso que poderíamos justificar uma mudança no nosso comportamento no período destinado ao citado festejo pensando em nossa saúde, pois pesquisas apontam que possuir amigos se traduz em benefícios à saúde de quem os cultiva, ou seja, partiríamos do pressuposto que todos querem viver mais e melhor. Assim, poderíamos eleger a temática da amizade para ser desenvolvida ao longo de todos os meses do ano e ser celebrada na data que hoje é ocupada pela desgastada festa de natal.

Arrisco-me em dizer que até o suposto filho do altíssimo aceitaria a troca.

Cogito essa possibilidade em um quase devaneio, pensando que isso poderia ser factível e extensível a todos. Pais, filhos, irmãos, amigos, vizinhos, colegas de trabalho e até dos transeuntes que encontramos de passagem nesse mundo acelerado em que vivemos.  Para alguns demonstraríamos de forma inequívoca afeto e consideração, para outros bastaria um aceno e um sorriso sincero de nossa parte, significando minimamente uma atitude de cordialidade e educação. A festa, que seria contínua, passaria a ter um novo e apropriado contexto.

A temática não possui data específica, não possui local para ser exercida e não exige uma comida típica, a lanchonete da esquina poderá servir bem ao propósito, e os presentes poderão ser os mais diversos e simples possíveis como uma palavra, que nada custa, seria somente a tradução livre de um sentimento instantâneo, ou até mesmo uma atitude de gentileza como abrir uma porta ou puxar uma cadeira. Além disso, seria dinâmico, pois podemos construir novas amizades e ampliar a pretensa festa a cada novo ano.

Os amigos são a extensão de nossas famílias, mas com a regalia de poder ser a família que se escolhe. E por incrível que pareça, somos capazes de escolher amigos mesmo percebendo seus defeitos (que todos temos), mas por valorizarmos suas virtudes que sempre suplantarão os defeitos que porventura tenham. Amigos ensinam a sermos mais tolerantes, a respeitarmos as diferenças e conviver em harmonia.

A festa de fim de ano poderá então ser reflexo daquilo que cristãos, ou pessoas que possuem qualquer outro tipo de crença, ou não possuem crença alguma, entendem possuir indiscutível valor e importância, os amigos que temos em nossa família e aqueles que construímos e fortalecemos ao longo de nossas vidas.

Teríamos uma festa possivelmente mais verdadeira, que não mais dependeria da mídia e do comércio para alimentar alegrias convenientes e amabilidades fabricadas na Malásia. Com isso as lojas, tão imprescindíveis para a manutenção da festa no atual formato, até poderiam fechar no mês de dezembro.

Não nos fariam a menor falta.

Contribuição do amigo Valdemberg M. N. Pessoa

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