Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos. Pitágoras

Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos. Pitágoras
“O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram.” Jean Piaget

Número de homicídios em Mossoró no ano de 2013

Até o momento, foram registrados 133 homicídios na metrópole do futuro.
Alguém acredita que nossas autoridades (Prefeita, Governadora, Vereadores etc.) estão preocupadas com isso?

Quem sou eu

Minha foto
Em um relacionamento divertido com o conhecimento, a vida, a família e a profissão docente.

domingo, 10 de julho de 2011

Professora Amanda Gurgel recusa prêmio de empresários

O PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais fez hoje à noite a entrega do 19º Prêmio Brasileiros de Valor 2011 – Por um Brasil Ético e Eficiente. Eleita como “Educadora de Valor”, pela “manifestação contra a incúria do governo em relação à educação e aos maus tratos aos seus protagonistas, demonstrando corajosamente toda a sua indignação aos governantes”, a professora Amanda Gurgel recusou a distinção.

Em carta, explica seus motivos. Confira:

“Natal, 02 de julho de 2011


Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,


Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor,
“pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”.    A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país.    A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida c
om o movimento reivindicativo de sua categoria.    Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação.    Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.

A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades.    Minha luta é igual a de milhares
de professores da rede pública.    É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação.    Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE, entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado.

Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo
empreendedorista defendido pelo PNBE.    A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano.    Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público.

Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade
civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público.
 
Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas.   Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.

Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde
2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas.    Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.

Saudações,


Professora Amanda Gurgel”.

6 comentários:

  1. Há quem diga que não se pode lutar com dignidade. Há quem diga que é uma luta quixotesca. Há quem diga que não há solução. Mas há quem pratique o que fala. Há quem resista ao "canto da sereia" da mídia, daqueles que tentam (e quase empre conseguem é verdade) "comprar" os ideais e as imagens de todos. Parabéns mais uma vez à professora.
    Agamenon Tavares.

    ResponderExcluir
  2. Nenhuma novidade havia sido proferida naquela ocasião e nem tampouco teria sido mais audaz aquela atitude em comparação às demais vivenciadas no dia-a-dia daqueles envolvidos em ações afirmativas. Até então, pra mim, tudo muito normal.

    A propagação do que ali foi dito reverberou repentinamente rede afora em amplitude nacional. Também, achei isso muito comum e bem à força das circunstâncias que carecia de um tópico referencial.

    As várias aparições, a convite, nos programas televisivos e de grande audiência que os mantêm e que para se manterem as coisas têm que funcionar assim mesmo – é só pegar o frisson do momento -, também achei isso tudo muito normal. Mas havia um ponto positivo nisso tudo e foi (e ainda o é) o fato de que tudo isso deu maior visibilidade às nossas manifestações. Além disso, acrescentou-se, a elas, novas sensações – o próprio frisson para os manifestantes e aquele farnozinho naqueles de quem se exige mais comprometimento e responsabilidade com os negócios públicos.

    Falo sobre o sucesso popular e casual da sofressora (portmanteau) Amanda Gurgel como expoente maior (aos olhos da sociedade) desse movimento grevista dos professores no ensino público no RN. Por essa razão, também achei muito normal, mas não mais casual, os oportunistas que vivem de publicidades tentarem pegar carona nas circunstâncias e se aproveitarem desse sucesso para com isto se projetarem também ao público - quem disso usa, disso cuida -, diz, não à-toa, o velho adágio popular.

    E no cuidado de seus próprios negócios, até o PNBE afoitou-se na aparente atitude de agraciar a referida professora com um prêmio que linguisticamente é bastante atrativo: Prêmio Brasileiro de Valor – por um Brasil Ético e Eficiente, e, com isso, desvirtuar os outros valores legítimos de toda uma categoria profissional em luta pela valorização do ensino público gratuito e de boa qualidade.

    Foi somente depois da atitude da Amanda perante tão grandiosa proposta meritocrática que a coisa começou a fazer alguma diferença para mim a ponto de me fazer expressar minha opinião a esse respeito que há muito tempo silenciava na expectativa de mais elementos semióticos que pudessem contribuir com a minha interpretação daquele seu primeiro discurso para que, deveras, eu pudesse checar se realmente aquilo partia de uma ardilosa manifestação teatral da interação social, ou se realmente havia uma outra realidade social urgente e subjacente em prol da educação naquele momento.

    Havia, sim. E com essa sua renúncia a receber o prêmio, a timocracia recua, um tanto, acabrunhada e genuflexa para dá espaço e prestar louvor ao que há de mais belo nas virtudes humanas daqueles que não se deixam cooptarem por ilusórias honrarias e rápidas ascensões profissionais em desfavor de sua integridade moral.

    (Continua na seguinte postagem)


    Gilmar Henrique

    ResponderExcluir
  3. (Continuação do comentário anterior)

    A meritocracia – filha primogênita das timocracias - baseia-se nas aferições de talentos, criando-se, para esses propósitos, suntuosas ocasiões festivas para entrega de prêmios, benesses, sinecuras, e outras prebendas, formando, assim, um desejoso sistema de gratificações pessoais convidando o talentoso, sem que ele o saiba, a usar suas habilidades a favor das castas dominantes. Por isso, Platão, com um olhar de quem ver muito além do brilho ofuscante das belas aparências, proferiu, mui sabiamente, que essas honrarias eram o cerne mascarado da corrupção aristocrática.

    Nesse sentido, a meritocracia se adequou como luvas aos propósitos do capitalismo industrial a serviço das classes dominantes que a utiliza como racionalização (desculpa; pretexto – em termos freudianos) perfeita para mascarar “certas” ideologias que apregoam que a desigualdade social não deve ser encarada como opressão, preconceito ou qualquer outra forma de discriminação, mas deve ser interpretada como o resultado do sucesso do indivíduo pelo seu próprio esforço com o uso de seus talentos e habilidades.

    Ah, tá! Foi perfeita a racionalização. É Freud!
    Parabéns a Amanda Gurgel por renunciar esse prêmio que lhe roubaria o lustre de continuar lutando com dignidade e seriedade de propósitos.

    Gilmar Henrique

    ResponderExcluir
  4. Só para finalizar, acrescento que, para bens de qualquer espécie, sei que toda escolha feita revela ou encobre alguns aspectos sobre tal decisão. Ela pode ser livre, parcialmente livre, ou completamente influenciada por circunstâncias externas as quais muito interessam às analises da ética, ciências sociais e psicologia. Não me compete aprofundar nesses questionamentos sobre teorias da escolha-racional e nem tampouco emitir juízo de valor sobre intenções de utilidades subjetivas da Amanda.

    gilmar henrique

    ResponderExcluir
  5. Nos endereços abaixo, vejam a resposta da instituição
    http://correiodobrasil.com.br/amanda-gurgel-explica-por-que-nao-aceitei-o-premio-do-pnbe/266581/comment-page-1/#comment-12795
    Vejam nesse outro elo sobre o mesmo assunto e os mais de 100 comentários:
    http://www.viomundo.com.br/politica/os-motivos-de-amanda-gurgel-para-recusar-premio.html

    ResponderExcluir
  6. E falar em educação os téoricos e mestres deveriam analizar o sucesso de alunos de colégios militares na Olimpiada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), não consta que o glorioso exército brasileiro invista 10% de seu orçamento nos colégios militares.

    "Desde o início da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), em sua sétima edição, mudam os nomes dos vencedores das medalhas de ouro, mas entre os melhores cérebros matemáticos da rede pública nacional sempre estão alunos de colégios militares.

    Na última edição da Olimpíada (2010), cujo resultado foi anunciado no fim de junho, estabelecimentos militares de ensino conquistaram 185 (37%) das 500 medalhas de ouro, recebidas das mãos da presidenta DIlma Rousseff, no Theatro Municipal do Rio. Dos dez primeiros colocados nos três níveis da OBMEP, 20 são de instituições militares, incluindo dois alunos da Escola Naval, no nível 3 (médio).

    Quase todos esses medalhistas são do Sistema Colégio Militar, do Exército, que conta com 12 escolas no País, além da Fundação Osório, no Rio, e 14.400 alunos no País, meninos e meninas, nos níveis fundamental (do 6º ao 9º anos) e médio.

    Somadas a outras sete instituições militares vencedoras na OBMEP – como as escolas preparatórias das Forças Armadas e da Polícia Militar –, esses colégios representam apenas 0,00046% dos 40.377 estabelecimentos de ensino avaliados no país e ganharam quase 40% do total de medalhas. Competiram 19,5 milhões de estudantes da rede pública de ensino.

    Nas Olimpíadas de 2009 e 2008, o desempenho foi ainda melhor. Em 2009, 41% dos 300 ouros foram recebidas por colégios militares. No ano anterior, 39,3%.

    Dois dos seis representantes brasileiros na Olimpíada Mundial de Matemática, que acontecerá este mês na Holanda, serão de escolas do Exército: André Macieira, 16 anos, do Colégio

    Militar de Belo Horizonte, e Henrique Fiúza, 15, da unidade de Brasília – os dois primeiros colocados na OBMEP este ano e cinco vezes medalhistas na competição. Eles viajam quinta-feira para a Holanda e, desde o início do mês, estão passando por treinamento intensivo em São Paulo."

    FONTE:Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro | 12/07/2011 15:22

    ResponderExcluir